segunda-feira, 10 de maio de 2010

SÚPLICA A OXUM













Em cada corpo negro
Você
Presente ancestral
Sob o domínio da minha tribo
por um breve período
Pedi a Oxum você para mim
Mas não prestei oferenda
Não fiz ritual
E você partiu para outras terras.
Tantas vezes águas nos olhos
Lutando contra a vontade de derramá-las
Engulo em seco.
Naquela noite
Depois do transe profundo
Falei em outro plano
Proferir segredos do meu espírito
E senti a estranha presença do mal
Amanheceu
O coração doía
Não descansei
Vigiando-te ao longo da noite
Com o gosto do seu suor na boca
Vi seu corpo desaparecer por entre minhas armas
Quando as flechas me acertaram
Eu nem me defendi
Ao retirar as lanças do meu corpo em sangue
Senti um alívio que momentaneamente
Revigorou-me a força
Como guerreira que perdeu a batalha
Recuei com orgulho
Mas a dor insistiu no peito
E o fim anunciou
Perdi o presente dos meus ancestrais.
Mas o chamado é forte
Uma intimação
Há de se chegar o tempo
Em que suplicarei como uma escrava
Oxum!
Com barro fino e amarelo das margens do seu rio
Reveste a minha alma lânguida e rebelde.


                                         

segunda-feira, 1 de março de 2010

DIVISOR DE ÁGUAS

"Realmente emocionante ver na prática a arrogância acadêmica vencendo a saberia popular no discurso, e perdendo na prática."

Alan Tygel

Aprender com os trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra durante o Estágio Interdiscipinar de Vivência e Intervenção em Áreas de Reforma Ágraria, ocorrido em Janeiro deste ano foi uma experiência singular que me proporcionou além de outros posicionamentos, desconstruir preconceitos e contra argumentar diante ao que é exposto pela burguesia em relação ao MST- Movimento dos trabalhadores rurais sem terra. Ainda que as universidades,em seu caráter hegemônico, produzam conhecimento primordialmente para sanar as exigências inescrúpulosas do capitalismo é possível sim, através de iniciativas como a do NEPPA- Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias direcionar a produção intelectual e a tecnologia em favor da classe trabalhadora, não no papel de detentores do conhecimento, mas numa perspectiva de interação dialógica e intervenção praxiólogica.

Todo o estágio me fez refletir e constatar na prática que o sujeito crítico transforma sim a sua realidade, mas não de forma individual. Com o trabalho coletivo, baseado no amor, na alegria e no respeito mútuo, permeado de muita ousadia, disciplina e luta a construção de uma sociedade justa, gerida pelo poder popular deixa de ser mera ilusão para se tornar realidade concreta. 

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